“Há cerca de trinta ou trinta e um mil séculos, uma criança passeia-se, caminhando à beira de um rio actualmente desaparecido, na África ocidental, no Afar etíope, a cerca de duzentos quilómetros do actual mar Vermelho. Há cerca de trinta ou trinta e um mil séculos, esta criatura, uma rapariga, é arrastada pelas cheias desse rio.”
O Reino animal antes de Lucy
A vida na terra data de há cerca de 3.5 mil milhões de anos, sob a forma de simples bactérias que se reproduzem, se alimentam e respiram.
A evolução efectua-se ao longo de vários milhões de anos. A primeira associação de células data de há 600 milhões de anos. Os peixes, primeiros vertebrados apareceram há cerca de 500 milhões de anos. A vida invadiu o domínio terrestre há 360 milhões de anos aproximadamente. Foram os anfíbios, os primeiros habitantes em terra, providos de membros e pulmões; eles vivem igualmente bem dentro e gora de água.
O longo reinado dos répteis começa a seguir. É o tempo dos dinossauros – animais rastejantes ou voadores, minúsculos ou gigantescos, estas criaturas são ovíparas. Viveram durante o Secundário, ou seja, 200 milhões e 65 milhões de anos antes da nossa era. Estes seres desapareceram há mais de 60 milhões de anos, por razões ainda mal determinadas. No final do seu reinado dois grupos nasciam: os primeiros mamíferos e as primeiras aves.
A era Terciária é aquela em que se desenvolvem os mamíferos, seres providos de dentes e de mamas. Há cerca de 70 milhões de anos aparecem os primatas que possuem apenas duas mamas localizadas nos peitorais. O mamífero mais antigo que temos conhecimento é o Purgatórius, um pequeno insectívoro semelhante ao nosso musaranho. Mais tarde, há cerca de 30 milhões de anos, apareceram os grandes macacos: orangotangos, gorilas e chimpanzés. Finalmente surgem os australopitecos – a raça de Lucy.
O mundo na época de Lucy
O mundo no qual Lucy vive é um mundo velho: existe há cerca de quatro mil milhões de anos.
Os cinco continentes actuais ainda não existem: o continente único original, a Pangeia, fragmentou-se em quatro partes, mas a África e a América actuais ainda não se destacaram completamente e a península da Arábia ainda não se formou.
A terra está então no final da era geológica que se chama Terciária: o clima é quente em todo o mundo, mais quente de que actualmente; na região onde Lucy vive as temperaturas são amenas e as chuvas frequentes.
Lucy
Em 1974 uma equipa de historiadores franceses e norte-americanos, especialistas em Pré-História, encontrou 52 ossos pertencentes ao esqueleto de uma rapariga e baptizaram-na de Lucy em referência a uma canção dos Beatles.
Entre o chimpanzé e o Homem
Lucy é ainda mais próxima do chimpanzé do que do homem actual. Trata-se de uma fêmea com cerca de 20 anos, 1.20m de altura e um peso aproximado de trinta quilos. A cabeça é pequena, o cérebro, contido na parte posterior do crânio pelos poderosos músculos do pescoço, está pouco desenvolvido e o rosto projecta-se para a frente como o dos macacos. Possui braços compridos que a tornam ágil para trepar às árvores – mas as pernas, embora curtas, permitem-lhe manter-se quase direita e caminhar de pé. Lucy é bípede e isso torna-a o primeiro ser que mais se assemelha ao Homem. Ela pertence a uma espécie que terá aparecido há cinco milhões de anos: os Australopitecos. Esta espécie viveu na parte oriental da África, a região dos lagos, também conhecida por Rift Valley. Aqui, no seio de uma vegetação então luxuriante, esta espécie encontra facilmente os alimentos que precisa para sobreviver.
Com o tempo, os australopitecos dividem-se em grupos de indivíduos de características diferentes. Lucy pertence a um desses grupos: Australopithecus afarensis. Existem diversos grupos de australopitecos mas os mais conhecidos são os Australopithecus robustus, que apesar do seu nome mede apenas 1.5m de altura e o seu peso não ultrapassa os sessenta quilos; e os Australopithecus africanus ou grácil, cujas dimensões são idênticas as de Lucy, mas que possui um cérebro maior, os músculos do pescoço são menos fortes e alimenta-se de carne para além de frutos e raízes.
Os primeiros bípedes da Terra
O que demarca Lucy e a sua família dos outros animais é o facto de ela utilizar a marcha como meio de locomoção. A aquisição da postura erecta tem consequências fisiológicas essenciais: o alargamento da bacia, a modificação dos pés que suportam sozinhos o peso do corpo. Os dedos dos pés sofreram também alterações, ficaram mais curtos e o polegar deixa de se opor a todos os outros de modo a não prejudicar o movimento da marcha. A cabeça mantêm-se em equilíbrio sobre a coluna vertebral e os músculos do pescoço, não precisando já de a suster, enfraquecem, criando o espaço necessário ao desenvolvimento do cérebro. Finalmente, a posição vertical liberta os membros anteriores, as mãos, que se tornam instrumentos privilegiados para o fabrico de artefactos.
Uma espécie votada ao desaparecimento
Mas a família de Lucy e as outras espécies de australopitecos desaparecem no último milhão de anos. Há aproximadamente 2.5 milhões de anos um outro grupo de bípedes faz a sua aparição na mesma região do Rift africano. Este grupo é composto por indivíduos altos (1.50m-1.60m) e providos de um cérebro mais desenvolvido (cerca de 800 cm3). São capazes de talhar uma pedra e fazer dela um utensílio; agrupam-se em tribos com uma organização social mínima. Fixam-se em locais próximos da água e fabricam abrigos com ramos. Estas criaturas são os nossos antepassados e mereceram o nome de Homo habilis.
In Memória do Mundo – das origens ao ano 2000, edição Circulo de Leitores, Setembro 2000
Olá amiga Luisa!
ResponderEliminarMuito interessante o post. Não sabia que o nome "Lucy" era uma referência a uma canção "Lucy in the Sky with Diamonds".
Desejo um excelente 2011 para a amiga.
Beijo no coração, Fernandez.