Tendo eu sido educada no seio de uma família católica, levaram-me as minhas convicções e ideais a raramente participar nos rituais e práticas da igreja católica. Mas esta minha posição desviante em relação à igreja enquanto instituição, não interfere com a minha própria espiritualidade e fé. Apenas não sinto necessidade de ser orientada pelos representantes eclesiásticos e participar nas suas manifestações de fé.
Sempre achei curiosa e muito rica a forma como os seres humanos, ao longo dos tempos encaram o inexplicável. Gosto particularmente de analisar e aprofundar essa matéria. Nestas deambulações, surgiu-me uma dúvida: e os ateus? Como explicam eles o inexplicável?
Após algumas pesquisas, conclui que os ateus não têm qualquer necessidade de explicar o inexplicável, tão simplesmente porque para eles não existem mistérios sobrenaturais. Quanto muito existem factos e situações que ainda não conseguiram ser explicadas cientificamente. Para estes factos existem teorias científicas, que ao longo dos tempos têm sido aprofundadas e provadas. Eles consideram que as crenças e fé em Deus ou em Deuses(as) está relacionada com a imaturidade racional dos homens.
Os ateus são homens e mulheres que não admitem a divindade de Jesus Cristo nem o carácter divino da Bíblia. Jesus Cristo é encarado como um homem comum, que se terá destacado como tantos outros antes e depois dele e quanto à bíblia, é um livro que conta a história do povo hebreu numa linguagem própria, em forma de parábolas e por vezes épica.
Richard Dawkins, eminente cientista e escritor britânico, ateu e humanista, no seu livro
The God Delusion (Deus em Delírio, 2006), defende que, a ideia de Deus como é apresentada pelas diversas religiões (Cristianismo, Judaísmo, Islamismo), não passam de histórias ou contos extremamente criativos, para explicar tudo o que conhecemos e desconhecemos. Acrescenta ainda que para além de inverosímeis, aquelas fábulas não possuem qualquer verdade racional ou lógica, tornando-se muitas vezes inimigas dos próprios crentes (o Islamismo, por exemplo) e da razão. Para Dawkins a ideia de um criador sobrenatural não passa de um delírio, uma falsidade que insiste em ser mantida mesmo diante de todas as evidências que as contrariam.
Para
Lígia Amorese Gallo, a crença em Deus antes de ser uma
necessidade é o maior dos vícios. Ela expressa imaturidade e a necessidade de um Pai protector que guia os passos de quem estiver
viciado em acreditar num
pastor, num
condutor.
Os ateus regem-se por uma filosofia muito própria que, sem ser única ou una, os seus alicerces fundamentais baseiam-se no assumir da responsabilidade dos seus actos, sem ter vínculos com realidades sobre-humanas, que de alguma forma os sustentem.
Para os ateus a ausência de Deus não equivale à não observância de valores, ética, honestidade e princípios de conduta. Como refere
Alfredo Bernacchi em
Sou ateu Graças a Deus, “
o Ateu não está preso a qualquer dogma ou conceito irreal e abstracto, político ou religioso. O Ateu é livre para raciocinar. (…) O Ateu não é falso, não acredita em falsidade, e não convive com ela. (…) É apenas um cidadão com seus defeitos e qualidades, que não acredita em deuses, que são muletas, e vive feliz, de cabeça erguida e consciente da sua grandeza.”