3 de janeiro de 2010

A Dança Clássica Indiana

Introdução
A dança é considerada uma das formas de arte mais importantes da cultura indiana. Devido à grande área geográfica ocupada pela Índia, a diversidade cultural, povos e línguas, é muito grande e vai reflectir-se na diversidade dos estilos de dança. Tal como no ocidente aqueles estilos abrangem o clássico o folclórico e o contemporâneo.

Os Clássicos
A tradição clássica é uma forma de arte muito antiga e sofisticada. É originária dos templos e é executada pelos devadasis (bailarinos do templo). Os estilos clássicos estão relacionados com a mitologia, a filosofia, as crenças espirituais da cultura hindu e, em tempos mais recentes, com a tradição islâmica. Têm suas raízes no Natyasastra, o texto mais antigo que se conhece sobre dramatologia, atribuído a Bharata, que na realidade actuou mais como pesquisador e compilador de trabalhos muito antigos do que como o inventor do género dramático. Segundo as hipóteses mais aceites, o Natyasastra remonta aos séculos III a IV d.C. Esse tratado sânscrito define o drama como a conjunção da palavra, da mímica, da dança e da música e estabelece os seus princípios técnicos e estéticos.


Do século II ao VIII d.C., houve uma significativa diversificação da dança. Gradualmente, ela foi-se dissociando do drama e nasceram então os diferentes estilos clássicos, que reflectem as tradições particulares de cada região em que surgiram. No entanto, todos os estilos clássicos compartilham os elementos básicos do nritta (dança pura), do nritya (expressão) e do natya (elemento dramático).

Dentro do natya, o abhinaya (expressão do conteúdo dramático através da pantomina e do gesto) adquire formas diferentes em cada estilo, sendo uns mais exagerados que outros. Os temas do abhinaya também variam, mas cada estilo afirma os ensinamentos do navarasa, os nove estados de ânimo ou sentimentos: o amor, o desprezo, o pesar, a ira, o medo, o valor, o desgosto, a admiração e a paz. Esses estados de ânimo encontram-se classificados no Natyasastra, onde também são descritos os meios de expressá-los através dos movimentos dos olhos, das sobrancelhas, do pescoço, das mãos e do corpo.

Existem ainda duas categorias de movimentos que todos os bailarinos podem realizar independentemente de seu sexo: o tandava, aspecto masculino e vigoroso da dança, e o lasya, que representa o lado elegante e feminino. Todos os estilos são executados com os pés descalços, embora em alguns deles sejam utilizados os ghungroos (guizos nos tornozelos) para aumentar o ritmo dos passos. Os mudras (gestos com as mãos), os estilizados movimentos do rosto e dos olhos e os complexos esquemas rítmicos constituem outras características dessa dança.

Regionalismo
Embora tenham desenvolvido técnica própria e apresentações distintas, as variantes regionais mantêm as mesmas regras básicas e normas que aparecem no Natyasastra. Existem diferenças de estilo que dão qualidade peculiar a cada uma. As principais variedades são:


Bharata natyam: desenvolvida nos templos de Tamil Nadu, no sul da Índia. Contém um estimulante fluxo de percussão. O espaço e o movimento são percebidos ao longo de precisas linhas geométricas, acentuados por um frágil trabalho de pés.

Kathak: tem sua origem nos contos tradicionais do norte da Índia. Mais tarde, floresceu nas cortes hindu e mongol, onde se transformou na subtil e sofisticada forma de hoje. O estilo é caracterizado pelo complexo trabalho dos pés e os giros rápidos do corpo.

Odissi: provém do leste da Índia. As suas líricas e fluidas linhas são pontuadas por pausas, nas quais os bailarinos adoptam poses esculturais representações essas, que podem ser vistas nas paredes de alguns templos.

Manipuri: é um estilo elegante e suave que provém de Manipur, no noroeste da Índia. Os bailarinos dão pequenos passos e saltos e as mulheres vestem rígidas e longas saias. As lendas sobre Krishna são os temas desenvolvidos nas actuações.

Kathakali: surgido em Kerala, no sudoeste da Índia. Este estilo vigoroso e dramático está relacionado com as tradições das artes marciais. Utiliza mímica, maquilhagem e vestuário estilizados para representar os personagens dos mitos e lendas.

Mohini Attam: também surgiu em Kerala. As mulheres dançam vestidas de branco e dourado. É uma mistura do bharata natyam e do kathakali com doses de danças folclóricas locais, em particular o kaikottikali.

Kuchipudi: recebe seu nome do povo de Kuchipudi, no estado meridional de Andhra Pradesh. Tem muitos elementos comuns com o bharata natyam e é vibrante e intensa. É composta por bailes individuais e danças dramáticas.

O Folclore
As formas clássicas têm muitos pontos de união com a dança folclórica. Em todo o território Hindu existe uma grande variedade de danças folclóricas: danças sociais para celebrar ocasiões especiais como os casamentos, danças para mulheres e danças para homens. Os bailarinos dançam e cantam e o acompanhamento dos tambores é indispensável. Talvez as danças folclóricas mais conhecidas sejam as enérgicas e vigorosas bhangra do Punjab e o garba e o dandia ras (dança dos passos) de Gujarat.

Influências
Ao longo dos séculos, as danças Hindus sofreram diversas influências, que exerceram grande impacto no seu desenvolvimento. Do século XII ao XVIII d.C., o império mongol floresceu e mais tarde decaiu nas regiões do norte. Sob o mecenato dos imperadores, as artes, especialmente a música e a pintura, foram estimuladas nas cortes. O kathak evoluiu da tradição dos contadores de contos à forma subtil e complexa de hoje. Com a chegada do império britânico, a dança, entre outras artes, sofreu um eclipse temporal, especialmente nos locais onde a influência inglesa era mais notória. Devido à imposição da educação inglesa e dos valores vitorianos, a dança deixou de ser fomentada, especialmente entre a classe média. Gradualmente, caiu em desgraça e os devadasis foram expulsos dos templos.

No entanto, na primeira metade do século XX, personalidades como Rabindranath Tagore, Rukmini Arundale e Uday Shankar lutaram incansavelmente para recuperar a rica herança da dança clássica indiana. Essas pessoas realizaram um grande esforço para proporcionar maior relevo à dança e criaram as bases para o espectacular renascimento desta forma de arte, depois da Índia ter recuperado a sua independência, em 1947. A partir de então, surgiu um número cada vez maior de bailarinos, professores, alunos e companhias de dança indiana, não só na Índia, como na Grã-Bretanha, América do Norte e Austrália.

Da mesma forma que se tem dado continuidade às tradições folclóricas e à dança clássica, surgiram, nos últimos 50 anos, a dança contemporânea e a dança cinematográfica. Esta última transformou-se numa forma popular de arte e coreógrafos como Mrinalini Sarabhai, Manjusri Chaki-Sircar, Chandralekha e Kumudini Lakhia desenvolveram uma nova linguagem, criando obras modernas baseadas na tradição clássica e, algumas vezes, em temas da actualidade.

Na Grã-Bretanha, existe uma longa tradição de dança indiana. Uday Shankar trabalhou com Anna Pavlova na década de 1920. As excursões de Ram Gopal na década de 1950 continuaram com as realizadas pelas companhias britânicas a partir de 1970. Shobana Jeyasingh abriu um novo campo ao trabalhar com compositores e coreógrafos ocidentais, como Michael Nyman e Richard Alston, e com companhias de teatro e coreógrafos indianos contemporâneos, criando formas inovadoras e desafiantes para transmitir o classicismo indiano ao grande público.


16 comentários:

  1. Que bela matéria cultural! temos ainda muito o que aprender sobre a ìndia!

    Grande abraço
    Kellen

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  2. Saudações!
    Que Post Fantástico!

    Minha amiga Luísa, você inaugurou 2010 com um Post de alto nível, confesso que jamais tinha lido um artigo assim com esse estilo de leitura, pois, a cadência obedece a uma ordem sem igual. São tantas informações que fiquei perdido no imaginário.
    Favoritei e vou reler com mais atenção que o magnífico texto requer!
    Parabéns pelo lindo Post!
    Abraços,
    LISON.

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  3. Olha comadre...
    Realmente brilhante a matéria, bem elaborada, organizada, de bom gosto e acima de tudo falando dessa cultura tão cheio de riquezas, que é a dança indiana...
    Quero muito te mostrar um trabalho de uma Associação que participo aqui em minha cidade.
    Por influencia de seus conterrâneos e nossos patrícios, somos a maior cidade do Estado, quissá do Brasil inteiro a realizar a "folia de Reis", e sei que você vai gostar de conhecer, anote o blog deles:http://santosreisagforv.blogspot.com/

    Assim como eu, o pessoal lá também não conhece nada de internet, mas precisamos divulgar esse trabalho, e me coloco a disposição de fazer todos s contatos entre vocês por esse trabalho cultural, ok?

    Mais uma vez parabéns e muito obrigado pelo deleite cultural.
    Seu compadre.

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  4. Na India a dança parece estar muito presente na cultura e no dia a dia da população .... pra tudo é motivo pra dançar ....

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  5. amiga
    que linda essa dança
    a musica e os adereços
    são outro espetaculo a parte
    gostei muito parabéms

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  6. Essa foi a primeira vez que assisto a uma dança indiana, após ler o texto histórico que fala dos pés, mas fiquei encantado com o movimento dos dedos das mãos e a expressão do rosto da bailarina. Realmente o corpo fala por inteiro, decodificar a mensagem é que são elas...
    Encantado.
    João

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  7. Olá querida amiga Luísa,

    Excelente matéria da sua postagem, iniciando o ano de 2010 com um espetáculo maravilhoso da dança indiana.

    Além do texto, há o encantamento da música e dos movimentos da bailarina. É muito lindo!

    Parabéns, amiga.

    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

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  8. Muito bom seu post!

    Quer uma dica ?

    Publicar suas Nóticias / matérias e contéudos de um jeitinho novo

    ACESSE SOCIETY!

    www.funcast.com.br/society

    e publique!

    Bem no stylo DIHITT!

    Abração Equipe do Funcast!

    é Sucesso para você!

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  9. Luísa,

    Aprendi um pouco sobre a dança indiana porque quando estava casada, meu marido precisou fazer um trabalho de faculdade sobre este tema e eu o ajudei a pesquisar. Depois, sabe o que fiz? Peguei uns lençóis, improvisei uma roupa e eu mesma dancei como se fosse indiana...kkkkkk Diz ele que o espetáculo foi ótimo!

    Artigo maravilhoso. O vídeo está lindo. Gosto também da maquiagem e dos adereços. Parabéns!

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  10. Lú,

    A cultura dos povos é muito interessante. Aqui mesmo no Brasil, por ser um país muito grande, temos tantas culturas diferentes! De norte a sul, podemos, ter palavras que são pronunciadas de forma diferente ou mesmo ter o significado diferente.

    Linda postagem, faz bem aos olhos e a alma.

    Beijocas

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  11. Oi Lu

    Voltei rs.
    Feliz 2010... estou apostando minhas fichas nesse ano. Sucesso pra você, amiga.
    Bem, seu post é magnífico. Quem dança com prazer, não dança apenas com o corpo físico, mas com a alma. É lindo!

    Bjs

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  12. Olá Lu,

    Começou bem o ano! Que delícia essa matéria.

    E a gente dança no ritmo da vida, às vezes pisam no seu pé ou os passos não saem de acordo, mas o importante é não perder o compasso da música.

    Um bjo!

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  13. A cultura dos povos e sua manifestações artísticas são de uma riqueza e nós, muitas vezes, não conhecem nem a nossa própria.
    Ótimo artigo.
    Agradeço sua visita e comentário no artigo de aniversário do meu blog.
    Grande abraço.
    Catarino

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  14. Adorei esse post obre as danças da índia, está muito bem explicado.
    A índia também tem suas histórias Vedas maravilhosas que influênciaram muitas Religiões.

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  15. Bom dia, chegou fim de semana!!

    Por isso lhe desejo que vc fique com os seus, e aproveite totalmente estes 2 dias de folga.

    bjssss

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  16. Parabéns pelo artigo que é muito informativo.
    Embora ande há muitos anos pelo yoga, os meus conhecimentos sobre a dança indiana eram muitíssimo superficiais, agora já fiquei a saber muita coisa.
    A influência da dança indiana na cultura artística inglesa seria de esperar, dada a permanência dos ingleses na Índia. Desde o sec XIX os exotismos tiveram grande influência nas culturas ocidentais, sobretudo nas artes.
    Gostei muito
    Abs

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