A CONSTRUÇÃO DOS MOINHOS DE VENTO
Para percebermos como se construía um moinho de vento, temos que nos situar no fim da Idade Média, bem antes da industrialização, quando muitos dos actuais princípios eram desconhecidos. Senão vejamos: o papel era um bem raro; o sistema métrico, tal como hoje é usado, não existia; o cimento era feito com outros materiais; os sistemas construtivos eram outros e os materiais, obviamente também. Deste modo, e condicionados por alguma incerteza, vamos abordar alguns temas que estarão na base da construção dos moinhos, de modo a poderem ser melhor entendidos e preservados.
A construção de moinhos de vento até aos séculos XVI/XVII era radicalmente diferente da que hoje se pratica. Em termos práticos podemos considerar que a forma associada aos moinhos de vento tal como os conhecemos hoje, data do Séc. XVII, tendo as velas triangulares sido introduzidas no Séc. XVIII.
Transmissão do conhecimento
Os conhecimentos eram transmitidos principalmente de forma prática no decurso de grandes obras como, por exemplo, palácios, igrejas e mosteiros. Nestas obras os mestres transmitiam os seus ensinamentos aos seus aprendizes e, eventualmente, futuros substitutos. Daqui se infere que a formação prática e teórica dos mestres e artífices era muito boa, por ser resultado da sua participação em trabalhos de grande dimensão e complexidade.
Considerando que a transmissão desses conhecimentos era feita de modo tradicional, atento o empirismo do saber, a formação era lenta e consistia em percorrer uma escala de aperfeiçoamento que ia desde o servente, passando pelo aprendiz, pelo oficial, até chegar ao mestre, como teoricamente ainda hoje acontece com os misteres de pedreiro ou carpinteiro, entre outros.
Por outro lado, formação e conhecimentos passavam de pais para filhos, uma vez que estes desde cedo começavam a ajudar, aprendendo consequentemente o mesmo ofício. Este processo era habitual ainda há pouquíssimos anos com os mestres carpinteiros de moinhos conhecidos.
Sistemas tradicionais de moagem
A evolução dos sistemas de moagem está directamente ligada à evolução tecnológica e ao domínio e utilização de variadas fontes de energia. Assim, nos sistemas tradicionais de moagem começamos por assistir à utilização da energia muscular (do homem ou dos animais), depois da água (cursos de água e marés) e posteriormente, do vento. Esta última fonte de energia é a utilizada pelos moinhos de vento, os quais são caracterizados por uma construção básica que alberga o sistema de moagem (as mós e os componentes relacionados) e que suporta o sistema motor e de captação de vento (as varas e as velas ou pás, etc.).
Como a direcção do vento é variável, é necessário que o sistema de captação do vento ou o moinho no seu todo possam rodar em torno de um eixo de forma a permitir a utilização eficiente da fonte de energia eólica.
OPERAÇÃO DOS MOINHOS DE VENTO
Na sucessão de acontecimentos que fizeram, no fundo, a história do pão, temos, portanto, a existência de toda uma série de engenhos que permitem, inclusivamente, caracterizar as etapas da evolução humana (do ponto de vista técnico, social e cultural).
O moinho de vento, por utilizar a energia eólica e sendo esta de orientação muito diversa, possui um sistema que permite rodar o capelo de forma a poder apanhar o vento, qualquer que seja a sua orientação.
O funcionamento
Um dia de trabalho no moinho começa pela preparação do cereal seguindo-se vários passos tais como: soltar as velas abrindo o pano em função da intensidade do vento; aliviar a mó; orientar o moinho para o vento através da rotação do sarilho; assim que a orientação está correcta todo o sistema entra em movimento de rotação; com isto o moleiro enche de cereal o tegão que através da rotação faz vibrar o cadelo e que por sua vez leva os grãos a deslizar do tegão para a mó. Esta faz o seu esmagamento e em função do desenho das ranhuras das mós obriga a farinha a sair por um único espaço preparado para tal.
Muitos dos moinhos possuíam já um sistema de limpeza da farinha de modo a lhe retirar o farelo - o aviadouro.
A última fase é a ensacagem da farinha.
O cereal, depois de preparado é concentrado num pequeno tegão em madeira que através da vibração produzida pela mó leva à sua queda entre as mós (poiso e andadeira) através do olho da andadeira ou movente, seu esmagamento e consequente saída da farinha por acção da rotação e forma de picagem das mós.
Sobre a andadeira situa-se uma caixa de dimensões médias, com o fundo em forma de tronco de pirâmide invertida e aberta - a moega ou tegão -, onde se deita o grão que vai ser moído. O grão corre da moega até ao olho da andadeira, por onde cai (para ser triturado) por uma calha de madeira inclinada - a quelha -; o regulador da quelha gradua a inclinação desta; e o chamadouro do grão, apoiado sobre a mó, faz vibrar a quelha, provocando e assegurando a saída e a queda ininterrupta do grão no olho da mó.
As duas mós, andadeira e poiso, são rodeadas por taipais de tabuinhas - os cambeiros - abertos à frente, por onde vai saindo a farinha que cai para um espaço do sobrado - o tremonhado - protegido lateralmente por anteparos de madeira e à frente por um pano - o panal.
A mó andadeira é accionada pela rotação do veio de ferro ligado e preso a ela por meio de uma peça achatada e forte, também de ferro - a segurelha - que encaixa num rasgo cavado à sua feição no centro da face inferior da mó e que segue para baixo, passando pelo olho do poiso através de uma bucha de madeira.
O veio da mó, que tem na parte inferior o carreto, termina também numa rela (chumaceira metálica com óleo para lubrificar e arrefecer) cravada numa trave móvel de madeira - o urreiro - apoiada num cachorro de um lado e do outro numa haste de ferro - o aliviadouro - que sobe ao sobrado, ao lado das mós. Regulando o aliviadouro por meio de um parafuso ele sobe ou desce (e com ele o urreiro, a rela e o veio da mó) e gradua, desse modo, a distância entre as duas mós e, consequentemente, a maior ou menor finura da farinação. O paralelismo das duas mós, indispensável ao seu bom funcionamento, obtém-se primordialmente por meio de calços que se colocam entre a segurelha e o cavado da mó em que ela encaixa.
Para voltar ao vento o mastro e o velame estes moinhos dispõem do sarilho que os tipifica e que é de facto um sarilho vulgar, cujo eixo, montado entre o fechal de madeira e um pontalete atravessado entre as duas troncas da armação, do lado da saída do mastro, é accionado por quatro braços em cruz; a corda, amarrada por uma das extremidades a um destes braços com a gassa, enrola ao eixo do sarilho e passa por duas corretãs com gancho - os moitões - uma das quais (munida de um dispositivo onde se fixa a outra extremidade da corda) prende a um dos arganéis da parede, enquanto que a outra se prende num dos arganéis do fechal de madeira. Dando ao sarilho, a corda (enrolando no eixo) encurta e, firmada entre o braço do sarilho e o arganel da parede, puxa o capelo, que roda até os dois arganéis ficarem quase na mesma linha. Mudando então a corretã que está no arganel da parede para o arganel a seguir, também da parede, a rotação do capelo prossegue até ao ponto conveniente.
Para percebermos como se construía um moinho de vento, temos que nos situar no fim da Idade Média, bem antes da industrialização, quando muitos dos actuais princípios eram desconhecidos. Senão vejamos: o papel era um bem raro; o sistema métrico, tal como hoje é usado, não existia; o cimento era feito com outros materiais; os sistemas construtivos eram outros e os materiais, obviamente também. Deste modo, e condicionados por alguma incerteza, vamos abordar alguns temas que estarão na base da construção dos moinhos, de modo a poderem ser melhor entendidos e preservados.
A construção de moinhos de vento até aos séculos XVI/XVII era radicalmente diferente da que hoje se pratica. Em termos práticos podemos considerar que a forma associada aos moinhos de vento tal como os conhecemos hoje, data do Séc. XVII, tendo as velas triangulares sido introduzidas no Séc. XVIII.
Transmissão do conhecimento
Os conhecimentos eram transmitidos principalmente de forma prática no decurso de grandes obras como, por exemplo, palácios, igrejas e mosteiros. Nestas obras os mestres transmitiam os seus ensinamentos aos seus aprendizes e, eventualmente, futuros substitutos. Daqui se infere que a formação prática e teórica dos mestres e artífices era muito boa, por ser resultado da sua participação em trabalhos de grande dimensão e complexidade.
Considerando que a transmissão desses conhecimentos era feita de modo tradicional, atento o empirismo do saber, a formação era lenta e consistia em percorrer uma escala de aperfeiçoamento que ia desde o servente, passando pelo aprendiz, pelo oficial, até chegar ao mestre, como teoricamente ainda hoje acontece com os misteres de pedreiro ou carpinteiro, entre outros.
Por outro lado, formação e conhecimentos passavam de pais para filhos, uma vez que estes desde cedo começavam a ajudar, aprendendo consequentemente o mesmo ofício. Este processo era habitual ainda há pouquíssimos anos com os mestres carpinteiros de moinhos conhecidos.
Sistemas tradicionais de moagem
A evolução dos sistemas de moagem está directamente ligada à evolução tecnológica e ao domínio e utilização de variadas fontes de energia. Assim, nos sistemas tradicionais de moagem começamos por assistir à utilização da energia muscular (do homem ou dos animais), depois da água (cursos de água e marés) e posteriormente, do vento. Esta última fonte de energia é a utilizada pelos moinhos de vento, os quais são caracterizados por uma construção básica que alberga o sistema de moagem (as mós e os componentes relacionados) e que suporta o sistema motor e de captação de vento (as varas e as velas ou pás, etc.).
Como a direcção do vento é variável, é necessário que o sistema de captação do vento ou o moinho no seu todo possam rodar em torno de um eixo de forma a permitir a utilização eficiente da fonte de energia eólica.
OPERAÇÃO DOS MOINHOS DE VENTO
Na sucessão de acontecimentos que fizeram, no fundo, a história do pão, temos, portanto, a existência de toda uma série de engenhos que permitem, inclusivamente, caracterizar as etapas da evolução humana (do ponto de vista técnico, social e cultural).
O moinho de vento, por utilizar a energia eólica e sendo esta de orientação muito diversa, possui um sistema que permite rodar o capelo de forma a poder apanhar o vento, qualquer que seja a sua orientação.
O funcionamento
Um dia de trabalho no moinho começa pela preparação do cereal seguindo-se vários passos tais como: soltar as velas abrindo o pano em função da intensidade do vento; aliviar a mó; orientar o moinho para o vento através da rotação do sarilho; assim que a orientação está correcta todo o sistema entra em movimento de rotação; com isto o moleiro enche de cereal o tegão que através da rotação faz vibrar o cadelo e que por sua vez leva os grãos a deslizar do tegão para a mó. Esta faz o seu esmagamento e em função do desenho das ranhuras das mós obriga a farinha a sair por um único espaço preparado para tal.
Muitos dos moinhos possuíam já um sistema de limpeza da farinha de modo a lhe retirar o farelo - o aviadouro.
A última fase é a ensacagem da farinha.
O cereal, depois de preparado é concentrado num pequeno tegão em madeira que através da vibração produzida pela mó leva à sua queda entre as mós (poiso e andadeira) através do olho da andadeira ou movente, seu esmagamento e consequente saída da farinha por acção da rotação e forma de picagem das mós.
Sobre a andadeira situa-se uma caixa de dimensões médias, com o fundo em forma de tronco de pirâmide invertida e aberta - a moega ou tegão -, onde se deita o grão que vai ser moído. O grão corre da moega até ao olho da andadeira, por onde cai (para ser triturado) por uma calha de madeira inclinada - a quelha -; o regulador da quelha gradua a inclinação desta; e o chamadouro do grão, apoiado sobre a mó, faz vibrar a quelha, provocando e assegurando a saída e a queda ininterrupta do grão no olho da mó.
As duas mós, andadeira e poiso, são rodeadas por taipais de tabuinhas - os cambeiros - abertos à frente, por onde vai saindo a farinha que cai para um espaço do sobrado - o tremonhado - protegido lateralmente por anteparos de madeira e à frente por um pano - o panal.
A mó andadeira é accionada pela rotação do veio de ferro ligado e preso a ela por meio de uma peça achatada e forte, também de ferro - a segurelha - que encaixa num rasgo cavado à sua feição no centro da face inferior da mó e que segue para baixo, passando pelo olho do poiso através de uma bucha de madeira.
O veio da mó, que tem na parte inferior o carreto, termina também numa rela (chumaceira metálica com óleo para lubrificar e arrefecer) cravada numa trave móvel de madeira - o urreiro - apoiada num cachorro de um lado e do outro numa haste de ferro - o aliviadouro - que sobe ao sobrado, ao lado das mós. Regulando o aliviadouro por meio de um parafuso ele sobe ou desce (e com ele o urreiro, a rela e o veio da mó) e gradua, desse modo, a distância entre as duas mós e, consequentemente, a maior ou menor finura da farinação. O paralelismo das duas mós, indispensável ao seu bom funcionamento, obtém-se primordialmente por meio de calços que se colocam entre a segurelha e o cavado da mó em que ela encaixa.
Para voltar ao vento o mastro e o velame estes moinhos dispõem do sarilho que os tipifica e que é de facto um sarilho vulgar, cujo eixo, montado entre o fechal de madeira e um pontalete atravessado entre as duas troncas da armação, do lado da saída do mastro, é accionado por quatro braços em cruz; a corda, amarrada por uma das extremidades a um destes braços com a gassa, enrola ao eixo do sarilho e passa por duas corretãs com gancho - os moitões - uma das quais (munida de um dispositivo onde se fixa a outra extremidade da corda) prende a um dos arganéis da parede, enquanto que a outra se prende num dos arganéis do fechal de madeira. Dando ao sarilho, a corda (enrolando no eixo) encurta e, firmada entre o braço do sarilho e o arganel da parede, puxa o capelo, que roda até os dois arganéis ficarem quase na mesma linha. Mudando então a corretã que está no arganel da parede para o arganel a seguir, também da parede, a rotação do capelo prossegue até ao ponto conveniente.
Fonte: Arte ao Vento
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