28 de fevereiro de 2011

Marquesa de Alorna (Leonor de Almeida Lorena, a Alcipe)

Marquesa de Alorna
Leonor de Almeida Lorena e Lencastre, condessa de Oeynhausen, 7.ª condessa de Assumar e 4.ª marquesa de Alorna, nasceu em Lisboa - Benfica a 31 de Outubro de 1750 e faleceu a 11 de Outubro de 1839. Notável poetisa, uma das mais importantes vozes do pré-romantismo em Portugal.

A sua infância foi bastante atribulada. Aos 8 anos foi encerrada como prisioneira em companhia de sua mãe e sua irmã no convento de Chelas, enquanto que seu pai estava preso na Torre de Belém, passando depois para o forte da Junqueira, como suspeito de ter tido conhecimento do celebre crime dos Távoras. Este infortúnio durou 18 anos, findos os quais, por morte do rei D. José, D. Maria I, subindo ao trono, mandou pôr em liberdade todos os prisioneiros do Estado.

Na sua reclusão do convento de Chelas, passou a primeira quadra da vida, em companhia de sua mãe e de sua irmã, entregando-se a profundos estudos, à composição de melodiosas poesias, que alcançaram grande fama e que figuraram depois nas suas obras completas com o titulo de Poesias de Chelas. Além dos sócios da Arcádia, havia bons poetas, entre os quais se distinguia Francisco Manuel do Nascimento, com o nome Flinto Elísio. Este poeta, com alguns amigos, começou a ir ao convento de Chelas, recitando versos, pedindo motes às freiras, esperando nessas ocasiões encontrar Leonor de Almeida e ouvi-la na grade. Com efeito a jovem poetisa apareceu, brilhou e confundiu os admiradores do seu talento. Data destes encontros o nome de Alcipe, com que eles a celebraram.

Apesar dos seus trabalhos artísticos e literários, porque Leonor entregava-se também à pintura, dispunha ainda de tempo para ajudar no serviço da enfermeira, da refeitoreira e de organista do convento. Conhecia a fundo varias línguas, tinha uma vasta instrução científica, desenhava e pintava admiravelmente, sem desdenhar ao mesmo tempo as prendas próprias do seu sexo. Era de carácter afável, sabia amenizar com a sua meiguice e candura filial as amarguras de sua pobre mãe, tornara-se muito querida pela sua amabilidade de todas as religiosas do convento. Quando o marquês saiu da prisão, dirigiu-se ao convento, onde na grade o esperavam sua mulher e filhas, acompanhadas de parentes e mais pessoas para o cumprimentarem. O marquês e sua família foram viver para a quinta de Vale de Nabais, que possuam nas proximidades de Almeirim. Saiu do convento aos 27 anos «em situação moral demasiadamente penosa para que sua poesia pudesse ser o risonho passatempo da época», diz Hernâni Cidade.

D. Leonor de Almeida era o encanto e o enlevo da sociedade da época. O seu talento, o prestigio do infortúnio que sofrera, a audácia de ter afrontado as iras do marquês de Pombal, tornaram-na digna da maior consideração e respeito. Casou com um fidalgo alemão e viajou por vários países da Europa, sendo notada como poetisa, e pelos seus trabalhos de pintura.

Marquesa de Alorna, auto-retrato em óleo sobre tela.

Às Musas

Co'a frauta agreste os beiços compremindo,
Desde que alva a manhã se despertava,
Ante Febo submissa me prostrava,
O sublime furor ao Deus pedindo.

Iam-se os Céus co'a clara luz abrindo,
Morfeu ao mundo alegre costas dava,
E Délio, sem mostrar que m'escutava
A rápida carreira prosseguindo.

Sobre a tripode em vão triste me sento,
Corro os três tetracordes sobre a lira,
Nenhum iguala a voz do meu tormento.

Musas cruéis, se aquele que delira
Mil vezes em vós acha acolhimento,
Porque não confortais a quem suspira?

A autora alude ao mito de Apolo, Febo, que concedia aos poetas, por meio de um furor sublime, uma súbita e incontrolada inspiração.

Mal acordava, e o sono (Morfeu) perdia, tentava a jovem compor a música que lhe alegrarsseo coração. Délio, outra figura mítológica, conduzia o carro do sol, que surgia na manhã clara.

Mas nem flauta nem lira conseguem animar a poetisa. Sente-se abandonada pelas Musas, que parecem não lhe reconhecer a existência.

Após ter enviuvado «entregou-se» à educação dos filhos, tornando-se muito estimada por todos, pelos grandes benefícios que dispensava constantemente aos pobres. Quando estava em Almeirim, pagava a uma mestra para ensinar as raparigas, tanto daquela vila como das povoações vizinhas, a ler, escrever, coser, e outras prendas próprias do seu sexo.


As obras da marquesa de Alorna foram publicadas depois da sua morte:

Obras poéticas de D. Leonor de Almeida, seis volumes.

Tomo I: Noticia biográfica da marquesa, seguida de outra notícia histórica de seu esposo o conde de Oeynhausen; Poesias compostas no mosteiro de Chelas; Poesias escritas depois da saída do mosteiro de Chelas;
Tomo II: Continuação das poesias líricas, escritas depois da saída do mosteiro de Chelas;
Tomo III: A primavera, tradução livre do poema das Estações de Thompson; os primeiros seis cantos do Oberon, poema de Wieland, traduzidos do alemão; Darthula, poema traduzido de Ossian; tradução de uma parte do livro I da Ilíada em oitava rima;
Tomo IV: Recreações botânicas, poema original em seis cantos; O Cemitério da aldeia, elegia, imitada de Gray; O Eremita, balada imitada de Goldsmith; Ode, imitada de Fulvio Testi; Ode de Lamartine a Flinto Elysio, traduzida; Epistola a lord Byron, imitação da 2ª meditação de Lamartine; imitação da 28ª meditação do mesmo poeta, intitulada: Deus;
Tomo V: Poética de Horácio, traduzida com o texto; Ensaio sobre a critica, de Pope com o texto; O rapto de Proserpina, poema de Claudiano em quatro livros com o texto;
Tomo VI: Paráfrase dos cento e cinquenta salmos que compõem o Saltério, em várias espécies de ritmo seguida da paráfrase do vários cânticos bíblicos e hinos da igreja. Parece que a paráfrase dos salmos não fora feita sobre a vulgata, mas sim sobre a versão italiana de Xavier Matthei. Uma parte do Saltério já fora publicada em vida da autora, num volume de 4.º, impresso em Lisboa, em 1833. A outra parte saíra também anteriormente com o título: Paráfrase e vários salmos, Lisboa, 1817; também haviam sido impressas em Londres em 8.º gr. as traduções da Poética de Horácio, e do Ensaio sobre a crítica, de Pope.

A cantora Misia de Portugal, interpreta em seu disco CANTO, de 2003, com produção musical de Carlos Paredes a canção de Alcipe.



Canção de Alcipe

Sozinha no bosque fui
com meus tristes pensamentos,
lá calei minhas saudades,
e fiz trégua aos meus tormentos.
Olhei então para a lua
que as sombras já rasgava,
e, no tremular das águas,
seus raios soltava.
Seus raios soltava.
Nessa torrente
da despedida
vejo, assustada,
a minha vida.
Do peito as dores
iam cessar,
voa a tristeza
torna o meu penar.
Do peito as dores
iam cessar,
tornam tristezas
a voar.

Fonte: Montalvo e as Ciências do nosso Tempo

1 comentário:

  1. ola passando aqui pra dizer
    que seu blogs esta otimo
    estou te seguindo
    se quiser seguir o meu agradeço
    tenha um bom dia
    http://cleberbinhocomportamentos.blogspot.com/

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