29 de janeiro de 2010

A Fúria sem Perdão do Cavaleiro D. Ramiro

Conta-se que em tempos que já lá vão, um cruel e impiedoso cavaleiro de nome Ramiro, ao regressar a casa, depois de mais uma vitoriosa batalha contra os mouros, terá encontrado no seu caminho duas mulheres mouras. As mulheres, mãe e filha, caminhavam no sentido contrário ao seu e a mais nova transportava na cabeça um cântaro cheio de água. D. Ramiro, numa soberba sem igual, exigiu às mulheres com modos indignos de um nobre cavaleiro, que lhe dessem água imediatamente. A rapariga assustada perante tanta rudeza, desequilibrou-se e deixou cair a bilha, que se partiu. Cego de raiva, por considerar que a jovem moura tinha quebrado a bilha de propósito, o irado Ramiro lançou-se sobre as duas mulheres e, cego de fúria, acabou ali mesmo com a vida das duas. A mais jovem, no último sopro de vida, amaldiçoou o guerreiro e toda a sua descendência. No momento em que se consumava a morte brutal das duas mulheres surgiu, já sem oportunidade para lhes valer, um jovem mouro: era filho de uma e irmão da outra. O malvado Ramiro pegou no jovem, e sem dó nem piedade fez dele seu prisioneiro.


O jovem mouro jurou vingar a mãe e a irmã, mas Ramiro não se amedrontou e levou-o consigo para o seu castelo. Quando chegou a casa, aguardavam-no a mulher e a filha de nome Beatriz. O prisioneiro ao ver as duas mulheres, resolveu que seriam elas o alvo da sua vingança. Então, fez com que todos no castelo acreditassem que ele era uma boa pessoa, pois como servo atendia prontamente e com um sorriso nos lábios, os caprichos dos seus amos. Mas às escondidas fabricava um veneno, que lentamente mataria as duas mulheres e que não deixaria quaisquer vestígios. A esposa do cavaleiro Ramiro foi a primeira vítima. A boa dama a pouco e pouco adoeceu e definhou até à morte. Os médicos nada puderam fazer pela senhora. Ramiro, inconsolável com a morte da esposa, que à sua maneira muito amava, partiu para novas batalhas, deixando Beatriz confiada ao mouro, que entretanto tinha conquistado a confiança do vilão.

Mas o rapaz foi adiando a morte de Beatriz, porque no seu coração de infiel nascia um puro afecto que não tem credo: o amor. Os dias foram passando e também a filha de Ramiro se apaixonou pelo mouro. Então o carinho entre ambos falou mais alto, e as juras de vingança do mouro foram esquecidas.

Mais uma vez de regresso a casa e para aliviar o cansaço, o nobre Ramiro congeminava que teria que casar a sua filha, e para isso pôs-se a pensar em todos os jovens cavaleiros que conhecia para escolher um que a merecesse.

Finalmente em casa, o pai conta à filha o que tinha pensado e logo ali decidiu que iria dar um grande jantar para escolher o futuro marido de Beatriz. Ao saber desta situação o jovem mouro ficou aflito só de pensar que poderia perder a bela donzela, e contou-lhe toda a sua história: desde a morte de sua mãe e irmã, às mãos de Ramiro, até à morte da mãe de Beatriz, por suas próprias mãos. Beatriz perdoou-lhe e ambos, cada vez mais apaixonados, numa noite cálida e iluminada pelas estrelas, fugiram do castelo e e nunca mais ninguém os viu… ou talvez não... é que se diz por aí, que nas noites de S. João, se olharmos para a torre mais alta do castelo, veremos um jovem casal eternamente abraçado. Há até quem tenha visto D. Ramiro ajoelhado aos pés dos jovens a pedir perdão. Aqui dividem-se as opiniões: muitos dizem que já ouviram o jovem mouro a gritar: "Maldição!!", uns poucos não duvidam que ouviram nitidamente o rapaz a dizer: "Estás perdoado!"

Esta história é uma das muitas, relacionada como castelo de Almourol.
Narração livre da lenda por Luísa L.

10 comentários:

  1. Seu Blog está cada vez melhor.Abraços

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  2. Oi Luisa,

    Adorei a lenda que ronda este castelo. Gosto muito dessas histórias. Sempre há alguma verdade nelas.

    bjs

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  3. Saudações!
    Que Post Fantástico!
    Amiga LUÍSA, esse é mais um super texto que conseguimos ler de um só fôlego do começo ao fim, dada a beleza da fascinante lenda, e como você sabe sou um apaixonado por lendas, história e estórias.
    Parabéns pelo fascinante texto!
    Ótimo Post!
    Abraços fraternos,
    LISON.

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  4. Olá amiga Luísa.
    Adorei o conto. Só espero que o jovem tenha dito "Estás perdoado!", a pesar de todas as adversidades.
    Grande abraço, Fernandez.

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  5. Eu não sei até que ponto o perdão que somos capazes de dar (an natureza deste) é capaz de diluir um ódio alimentado durante tanto tempo. Não sei se o Amor dilui o tal ódio ou alimenta a trama dos fios traiçõeiros da teia do destino.

    Não sei se somos capazes de perdoar verdadeiramente. talvez, só o tempo nos dê capacidade e condições de esquecer a tal ponto um episódio que não venhamos mais a reagir "visceralmente" (com o instinto) a um lembrança dolorosa.

    Bjs Luisa!!

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  6. Luísa,
    Marvailhosa estória; confabulando sobre ela, será que a jovem Beatriz teria perdoado o jovem mouro por ter matado sua mãe?

    Um forte abraço!

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  7. Grande Luisa, tentei ler o texto, tanto no Firefox, assim como o explorer, mas tem um "lado escuro" no seu blog que insiste em não deixar ler o texto por completo .... sei lá, só sei que foi assim.

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  8. Olá querida amiga Luísa,

    Parabéns pela magnífica lenda, narrada de forma tão bela como sempre faz.

    Como o final da estória é inespecífico, e a imaginação de cada um caminha a passos rápidos e largos, prefiro pensar que o perdão foi mútuo e os dois viveram felizes para sempre.

    Amei sua narrativa.
    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

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  9. Luisa, seu universo cultural me encanta cada vez mais, parabéns!!

    um abraço,
    Geraldo.

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  10. OI, Luísa, gostei muito da lenda, mas a história tem nos mostrado fatos tão ou muito mais cruéis do que este.
    Um abraço
    João

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