Pedro Nunes nasceu em Alcácer do Sal em 1502. De ascendência judaica, seguiu os cursos de Filosofia e de Matemática na Universidade de Lisboa, onde em 1525 alcançou o grau de bacharel em Medicina. Em 1529 foi encarregado da regência da cadeira de Filosofia Moral, transitando em seguida para a de Lógica e depois para a de Metafísica.
Por alvará de 1529, o rei D. João III nomeou-o cosmógrafo, com a pensão de 20 mil réis por ano, cargo em que foi confirmado em 1541 com a renda duplicada. Em 1547 passou a cosmógrafo-mor, com o vencimento de 50 mil réis. Em 1531 foi para Évora como tutor dos príncipes.
Em 1544, pouco tempo depois da transferência da Universidade para Coimbra, Pedro Nunes foi aí nomeado professor, cargo que ocupou até à sua jubilação em 1562. Na sua qualidade de cosmógrafo ausentou-se diversas vezes de Coimbra para corresponder a pedidos do rei no sentido de resolver problemas técnicos da náutica.
Entre 1562 e 1572 afastou-se da corte e viveu em Coimbra, mas D. Sebastião voltou a chamá-lo ao serviço como cosmógrafo em 1572. Parece ter sido a partir desse momento que se ocupou de uma «aula de esfera» (astronomia e cosmografia) destinada aos pilotos, navegadores e cartógrafos. Em 1568 foi encarregado por D. Sebastião da reforma dos pesos e medidas do Reino, que foi promulgada em 1575. Faleceu em Coimbra em 1578.
Publicações
Publicou em 1537 um livro com os seguintes textos:
1.º Tratado da Esfera;
2.° Teoria do movimento do Sol e da Lua;
3.° Tratado de Geografia de Ptolomeu;
4.° Tratado de algumas duvidas da navegação;
5.° Tratado em defensam da carta de marear.
Os três primeiros tratados são traduções comentadas de obras de Sacrobosco, Purbáquio e Ptolomeu.
Publicou um opúsculo que constitui um resumo do Tratado da Esfera, de João Sacrobosco, em latim, com o título Astronomici Introductori de Sphaere Epitome, sem data, que terá sido publicado entre 1537 e 1542.
Em 1542, publicou De Crepusculis Libri Unus, onde estuda a duração do crepúsculo em relação com a latitude e a época do ano. Em 1546, De Erratis Orontii Finaei, este livro é uma análise crítica a um trabalho do matemático francês em que este pretendia, erradamente, ter resolvido três problemas clássicos de geometria. Posteriormente veio a provar-se a impossibilidade do estudo (quadratura do círculo, duplicação do cubo e trisecção de um ângulo qualquer).
Em 1566 publicou Petri Nonii Salaciensis Opera, onde inclui vários trabalhos relacionados com a arte de navegar. Em 1567, Libro de Álgebra en Arithmetica y Geometria. Publicou ainda De arte atque Navigandi, de que se conhece a edição de 1573, embora haja informações sobre uma anterior publicação em 1546. Deixou manuscritos alguns textos, entre os quais são conhecidos os seguintes: Defensam do Tratado de Rumaçao do Globo para a Arte de Navegar; Álgebra.
Principais contributos científicos
Entre as contribuições científicas de Pedro Nunes, merecem destaque os seus estudos sobre a loxodromia, conceito descoberto pelo matemático e que está na base do sistema de projecção dos mapas de Mercator. Pedro Nunes mostrou que, em geral, uma linha de rumo, mais tarde chamado loxodromia, isto é, um caminho que seguisse sempre a mesma direcção cardeal, faria uma espiral que daria um número infinito de voltas à roda dos pólos da Terra (as únicas linhas de rumo circulares são os meridianos e os paralelos, que correspondem aos ângulos de rumo de zero e de noventa graus em relação ao eixo norte-sul). De igual modo, verificou que a menor distância entre dois pontos da superfície da Terra é uma ortodromia, um seja, um arco do círculo máximo que passe pelos dois pontos. Chegou assim à conclusão que os mapas deveriam ter duas propriedades: a de preservação de ângulos, e a representação de linhas de rumo por linhas rectas.
Pode afirmar-se que Pedro Nunes, apesar de não ter concretizado as suas teorias na elaboração de um mapa, preparou o caminho para a concretização de novos mapas, o que veio a ser feito por Gerardus Mercator (1512-1594) e que revolucionou a cartografia.
Outro contributo importante, que este matemático nos deixou, foi a concepção do nónio. Este instrumento teórico permitiria medir fracções de grau em dois instrumentos náuticos de altura, o astrolábio e o quadrante. O conceito que está na base deste instrumento foi depois aperfeiçoado por Cristóvão Clavius (1537-1612) e por Pierre Vernier (1584-1638), o que permitiu que fosse mais facilmente construído e tornado mais comum no século XVIII.
Adaptação de um texto de Fernando Reis
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